sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Hugo Chavez proibe educação religiosa na Venezuela

O presidente da Venezuela, Hugo Chavez, assinou este mês uma nota que elimina a educação religiosa das escolas nacionais. A informação parte do cardeal Jorge Urosa Savino, arcebispo de Caracas, capital do país Sul-americano.Visite: Gospel, Noticias Gospel, Videos Gospel, Biblia Online

Os críticos do governo notam a rapidez do processo, aprovada na Assembleia Nacional, apontam a inconstitucionalidade e acusam o governo de não ter ouvido opiniões exteriores. A lei, dirigida a todos os estabelecimentos de ensino, públicos e privados, deixa a educação religiosa para as famílias.

A nova legislação foi bastante questionada por opositores do seu regime, mas o presidente venezuelano disse que a lei promove uma educação libertadora.

“Hoje estamos aprovando, estamos promulgando a educação libertadora. Esta lei vai permitir dar um novo impulso e uma maior profundidade às mudanças revolucionárias”, disse Hugo Chávez na cerimônia de promulgação da Lei, obrigatoriamente transmitida diretamente pelas televisões do país.

“Vamos cumprir e fazer cumprir a nova Lei. Morreu e descanse em paz a Lei de Educação anterior, que foi feita pela burguesia”, disse.

A lei agora aprovada obriga os meios de comunicação social públicos e privados a conceder espaços às instituições educativas e proíbe ações que incitem o ódio e a propaganda nas escolas.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Familia No Campo do Retiro Cananéia

quarta-feira, 29 de julho de 2009

CONVERSA DE CRENTE

Lc 24. 13-35; 1Co 15.33

Pr. Irland Pereira de Azevedo Igreja Batista Broklin

INTRODUÇÃO

Uma das coisas boas da vida é conversar. Mas quê é conversa? É o mesmo que conversação, entendimento, partilha de informações. Conversar é falar, discorrer, palestrar, discutir, tratar ou comunicar-se com familiaridade.

O ser humano é o único capaz de conversar de maneira inteligente e articulada. Todavia, há muita “conversa fiada” (proposta ou propósito de pessoa que não tem, na realidade, intenção de cumprir o que diz); “conversa mole”, sem nenhum resultado prático; conversa vazia, oca, “conversa para boi dormir”, “lero-lero, papo furado”.

1. A CONVERSA É UMA COISA BOA

1.1 Serve para que nos expressemos. E manifestemos nossa simpatia ou amizade.

1.2 É forma eficaz de nos consolarmos mutuamente. É o que ocorreu com os discípulos de Emaús.

1.3 É algo que alivia nossas tensões e preocupações. Diz John Milton em seu Paraíso Perdido: “Conversando contigo, esqueço todo o tempo, todas as estações e a mudança delas. Tudo agrada, do mesmo jeito”.[1]

1.4 É uma forma eficaz de testemunho, evangelização e edificação.

2. A CONVERSA PODE SER UM MAL

2.1 Quando se transforma em maledicência – falar mal dos outros.

2.2 Quando é agressiva e ofensiva – A experiência de Zidane na final da Copa.

2.3 Quando é tola, obscena e expressa gracejo imoral – Paulo lembra, em Ef 5.4:

“Não haja obscenidade, nem conversas tolas, nem gracejos imorais, que são inconvenientes, mas, ao invés disso, ações graças”.

2.4 Quando não tem sal e não comunica a palavra de graça. É a instrução da Palavra, em Cl 4.6:

“O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a cada um”.

3. A CONVERSA DO CRENTE TEM DE SER DIFERENTE, PORTANTO

3.1 Porque suas palavras procedem de uma boa fonte, como lembra Tiago, irmão do Senhor Jesus (Tg 3.7-12).

-“Toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar doma-se e tem sido domada pela espécie humana;

- a língua, porém, ninguém consegue domar. É um mal incontrolável, cheio de veneno mortífero”.

- com a língua bendizemos o Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.

- Da mesma boca procedem bênção e maldição. Meus irmãos, não pode ser assim!

- Acaso podem sair água doce e água amarga da mesma fonte?

- Meus irmãos, pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira, figos? Da mesma forma, uma fonte de água salgada não pode produzir água doce”.

3.2 A conversa do crente não há de ser para falar mal do irmão. É Tiago também quem no-lo ensina – Tg 4.11:

“Irmãos, não falem mal uns dos outros. Quem fala contra seu irmão ou julga o seu irmão, fala contra a Lei e a julga. Quando você julga a Lei, não a está cumprindo, mas está se colocando como juiz”.

3.3 A conversa do crente não há de ser com palavras tolas, linguagem obscena e gracejos imorais, como já vimos em Ef 5.4.

3.4 A conversa do crente há de ser para elevar, pra construir, para edificar os outros e promover a paz. Lembra-o Paulo, escrevendo aos efésios, em Ef 4.29:

“Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem”.

E mais, diz Paulo:

“Não entristeçam o Espírito Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção. Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade.Sejam bondosos e compassivos, uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo” (Ef 4.30-32).

3.5 A conversa do crente há de ser ponderada e sempre temperada, agradável, a comunicar graça e paz – Cl 4.6. Diz Charles D. Warner: “A conversa é como alface: deve ser fresca e refrescante, tão brilhante que dificilmente nela você percebe o sabor amargo”.[2]

3.6 A conversa do crente deve ser caracterizada por verdade, justiça e bondade, que isso é fruto da luz – Ef 5.8-10.

“Porque outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Vivam como filhos da luz, pois o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade: e aprendam a discernir o que é agradável ao Senhor”.

3.7 Como conversar, falando a respeito dos outros?

Ilustrar: O discípulo de Sócrates e seu amigo Nikitas. – Três peneiras: É verdadeiro? É bom?, É necessário?

CONCLUSÃO

Conversemos, conversemos mais com os irmãos, para edificarmos e abençoarmo uns aos outros. Mesmo porque chegará o dia de prestação de contas. E o Senhor pedirá contas de toda palavra ociosa que sair de nossa boca. Vejamos o que Ele diz:

“Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado”. Mt 12.36. NVI.

Conversemos com as pessoas, transformando nossa conversa como meio de comunicar as boas novas de salvação

Conversemos como Jesus. Como bons discípulos de Jesus. Ele ouviu seus interlocutores, participou da conversa, transformou a conversa e fê-la veículo de consolação e fé.

segunda-feira, 27 de julho de 2009


Não Quero Mais Ser Evangélico!


Por Ariovaldo Ramos

"Irmãos, uni-vos! Pastores evangélicos criam sindicato e cobram direitos trabalhistas das Igrejas". Esse, o título da matéria, chocante, publicada pela revista Veja de 9 de junho de 1999 anunciando formação do "Sindicato dos Pastores Evangélicos no Brasil".

Foi a gota d'água! Ao ler a matéria acima finalmente me dei conta de que o termo "evangélico" perdeu, por completo, seu conteúdo original. Ser evangélico, pelo menos no Brasil, não significa mais ser praticante e pregador do Evangelho (Boas Novas) de Jesus Cristo, mas, a condição de membro de um segmento do Cristianismo, com cada vez menor relacionamento histórico com a Reforma Protestante - o segmento mais complicado, controverso, dividido e contraditório do Cristianismo. O significado de ser pastor evangélico, então, é melhor nem falar, para não incorrer no risco de ser grosseiro.

Não quero mais ser evangélico! Quero voltar para Jesus Cristo, para a boa notícia que Ele é e ensinou. Voltemos a ser adoradores do Pai porque, segundo Jesus, são estes os que o Pai procura e, não, por mão de obra especializada ou por "profissionais da fé". Voltemos à consciência de que o Caminho, a Verdade e a Vida é uma Pessoa e não um corpo de doutrinas e/ou tradições, nascidas da tentativa de dissecarmos Deus; de que, estar no caminho, conhecer a verdade e desfrutar a vida é relacionar-se intensamente com essa Pessoa: Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho do Deus vivo. Quero os dogmas que nascem desse encontro: uma leitura bíblica que nos faça ver Jesus Cristo e não uma leitura bibliólatra. Não quero a espiritualidade que se sustenta em prodígios, no mínimo discutíveis, e sim, a que se manifesta no caráter.

Chega dessa "diabose"! Voltemos à graça, à centralidade da cruz, onde tudo foi consumado. Voltemos à consciência de que fomos achados por Ele, que começou em cada filho Seu algo que vai completar: voltemos às orações e jejuns, não como fruto de obrigação ou moeda de troca, mas, como namoro apaixonado com o Ser amado da alma resgatada.

Voltemos ao amor, à convicção de que ser cristão é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos: voltemos aos irmãos, não como membros de um sindicato, de um clube, ou de uma sociedade anônima, mas, como membros do corpo de Cristo. Quero relacionar-me com eles como as crianças relacionam-se com os que as alimentam - em profundo amor e senso de dependência: quero voltar a ser guardião de meu irmão e não seu juiz. Voltemos ao amor que agasalha no frio, assiste na dor, dessedenta na sede, alimenta na fome, que reparte, que não usa o pronome "meu", mas, o pronome "nosso".

Para que os títulos: "pastor", "reverendo", "bispo", "apóstolo", o que eles significam, se todos são sacerdotes? Quero voltar a ser leigo! Para que o clericalismo? Voltemos, ao sermos servos uns dos outros aos dons do corpo que correm soltos e dão o tom litúrgico da reunião dos santos; ao, "onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu lá estarei" de Mateus 18.20. Que o culto seja do povo e não dos dirigentes - chega de show! Voltemos aos presbíteros e diáconos, não como títulos, mas, como função: os que, sob unção da igreja local, cuidam da ministração da Palavra, da vida de oração da comunidade e para que ninguém tenha necessidade, seja material, espiritual ou social. Chega de ministérios megalômanos onde o povo de Deus é mão de obra ou massa de manobra!

Para que os templos, o institucionalismo, o denominacionalismo? Voltemos às catacumbas, à igreja local. Por que o pulpitocentrismo? Voltemos ao "instruí-vos uns aos outros" (Cl 3. 16).

Por que a pressão pelo crescimento? Jesus Cristo não nos ordenou a sermos uma Igreja que cresce, mas, uma Igreja que aparece: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. "(Mt 5.16). Vamos anunciar com nossa vida, serviço e palavras "todo o Evangelho ao homem... a todos os homens". Deixemos o crescimento para o Espírito Santo que "acrescenta dia a dia os que haverão de ser salvos", sem adulterar a mensagem.

Rev Tony Vieira Comenta!

A que ponto nós chegamos! A igreja hoje se "profissionalizou", somos agora arauto não mais preocupado com a vocação, com dar o só para que o povo que anda em trevas seja conduzido ao arrependimento. Hoje somos uma geração dentro da pós modernidade, como mentalidade rebelde ...

Estamos fazendo o movimento para Deus em favor do homem. Não há preocupação com vidas aos pés de Jesus, mas com vidas aos pés do ministério, "X ou Y" que Deus tenha misericórdia das novas vidas no mundo onde os homens procuram ouvir I Tm 4.3.5

Façamos uma profunda reflexão se nosso missão e buscar sustento através das instituições humanas, ou ser sustentados pelo Senhor que a tudo sustém.



Artigo extraído do site www.lideranca.org
“Há abusos em nome de Deus”
Jornalista relata os danos do assédio espiritual cometido por líderes evangélicos
Kátia Mello

A igreja evangélica está doente e precisa de uma reforma. Os pastores se tornaram intermediários entre Deus e os homens e cometem abusos emocionais apoiados em textos bíblicos. Essas são algumas das afirmações polêmicas da jornalista Marília de Camargo César em seu livro de estreia, Feridos em nome de Deus (editora Mundo Cristão), que será lançado no dia 30. Marília é evangélica e resolveu escrever depois de testemunhar algumas experiências religiosas com amigos de sua antiga congregação.

ENTREVISTA - MARÍLIA DE CAMARGO CÉSAR

Anna Carocina Negri QUEM É
Marília de Camargo César, 44 anos, jornalista, casada, duas filhas

O QUE FEZ
Editora assistente do jornal O Valor, formada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero

O QUE PUBLICOU
Seu livro de estreia é Feridos em nome de Deus (editora Mundo Cristão)

ÉPOCA – Por que você resolveu abordar esse tema?
Marília de Camargo César –
Eu parti de uma experiência pessoal, de uma igreja que frequentei durante dez anos. Eu não fui ferida por nenhum pastor, e esse livro não é nenhuma tentativa de um ato heroico, de denúncia. É um alerta, porque eu vi o estado em que ficaram meus amigos que conviviam com certa liderança. Isso me incomodou muito e eu queria entender o que tinha dado errado. Não quero que haja generalizações, porque há bons pastores e boas igrejas. Mas as pessoas que se envolvem em experiências de abusos religiosos ficam marcadas profundamente.

ÉPOCA – Qual foi a história que mais a impressionou?
Marília –
Uma das histórias que mais me tocaram foi a de uma jovem que tem uma doença degenerativa grave. Em uma igreja, ela ouviu que estava curada e que, caso se sentisse doente, era porque não tinha fé suficiente em Deus. Essa moça largou os remédios que eram importantíssimos no tratamento para retardar os efeitos da miastenia grave (doença autoimune que acarreta fraqueza muscular). O médico dela ficou muito bravo, mas ela peitou o médico e chegou a perder os movimentos das pernas. Ela só melhorou depois de fazer terapia. Entendeu que não precisava se livrar da doença para ser uma boa pessoa.

ÉPOCA – Que tipo de experiência você considera como abuso religioso e que marcas são essas?
Marília –
Meu livro é sobre abusos emocionais que acontecem na esteira do crescimento acelerado da população de evangélicos no Brasil. É a intromissão radical do pastor na vida das pessoas. Um exemplo: uma missionária que apanha do marido sistematicamente e vai parar no hospital. Quando ela procura um pastor para se aconselhar, ele fala assim para ela: “Minha filha, você deve estar fazendo alguma coisa errada, é por isso que o teu marido está se sentindo diminuído e por isso ele está te batendo. Você tem de se submeter a ele, porque biblicamente a mulher tem de se submeter ao cabeça da casa. Então, essa mulher, que está com a autoestima lá embaixo, que apanha do marido - inclusive pelo Código Civil Brasileiro ele teria de ser punido - pede um conselho pastoral e o pastor acaba pisando mais nela ainda. E ele usa a Bíblia para isso. Esse é um tipo de abuso que não está apenas na igreja pentecostal ou neopentecostal, como dizem. É um caso da Igreja Batista, em que, teoricamente, os protestantes históricos têm uma reputação melhor.

ÉPOCA – Seu livro questiona a autoridade pastoral. Por quê?
Marília –
As igrejas que estão surgindo, as neopentecostais, e não as históricas, como a presbiteriana, a batista, a metodista, que pregam a teologia da prosperidade, estão retomando a figura do “ungido de Deus”. É a figura do profeta, do sacerdote, que existia no Antigo Testamento. No Novo Testamento, não existe mais isto. Jesus Cristo é o único mediador. Então o pastor dessas igrejas mais novas está se tornando o mediador. Para todos os detalhes da sua vida, você precisa dele. Se você recebeu uma oferta de emprego, o pastor pode dizer se deve ou não aceitá-la. Se estiver paquerando alguém, vai dizer se deve ou não namorar aquela pessoa. O pastor, em vez de ensinar a desenvolver a espiritualidade, determina se aquele homem ou aquela mulher é a pessoa da sua vida. E o pastor está gostando de mandar na vida dos outros, uma atitude que abre um terreno amplo para o abuso.

ÉPOCA – Você também fala que não é só culpa do pastor.
Marília –
Assim como existe a onipotência pastoral, existe a infantilidade emocional do rebanho, que é o que o Sérgio Franco, um dos pastores psicanalistas entrevistados no livro, fala. A grande crítica do Freud em relação à religião era essa. Ele dizia que a religião infantiliza as pessoas, porque você está sempre transferindo as suas decisões de adulto - que são difíceis - e a figura do sagrado, no caso aqui o líder religioso, para a figura do pai ou da mãe - o pastor, a pastora. É a tendência do ser humano em transferir responsabilidade. O pastor virou um oráculo. É mais fácil ter alguém, um bode expiatório, para pôr a culpa nas decisões erradas tomadas.

“O pastor está gostando de mandar na vida dos outros
e receber presentes. Isso abre espaço para os abusos”

ÉPOCA – Quais são os grandes males espirituais que você testemunhou?
Marília –
Eu vi casamentos se desfazer, porque se mantinham em bases ilusórias. Vi também pessoas dizendo que fazer terapia é coisa do Diabo. Há pastores contra a terapia que afirmam que ela fortalece a alma e a alma tem de ser fraca; o espírito é que tem que ser forte. E dizem isso supostamente apoiados em textos bíblicos. Dizem que as emoções têm de ser abafadas e apenas o espírito ser fortalecido. E o que acontece com uma teologia dessas? Psicoses potenciais na vida das pessoas que ficam abafando as emoções. As pessoas que aprenderam essa teologia e não tiveram senso crítico para combatê-la ficaram muito mal. Conheci um rapaz com muitos problemas de depressão e de autoestima que encontrou na igreja um ambiente acolhedor. Ele dizia ter ressuscitado emocionalmente. Só que com o passar dos anos, o pastor se apoderou dele. Mas ele começou a perceber que esse pastor é gente, que gosta de ganhar presentes e que usa a Bíblia para se justificar. Uma das histórias que mais me tocou foi a de uma jovem que tem uma doença degenerativa grave. Ela foi para uma dessas igrejas e ouviu que se estivesse sentindo ainda doente era porque não tinha fé suficiente em Deus. Essa moça largou os remédios que eram importantíssimos no tratamento para retardar os efeitos da miastenia grave (doença auto-imune que acarreta fraqueza muscular). O médico dela ficou muito bravo e não a autorizou. Mesmo assim, ela peitou o médico e chegou a perder os movimentos das pernas. Ela só melhorou depois de fazer terapia. Ela entendeu que não precisava se livrar da doença para ser uma boa pessoa.

ÉPOCA – Por que demora tanto tempo para a pessoa perceber que está sendo vítima?
Marília –
Os abusos não acontecem da noite para o dia. A pessoa que está sendo discipulada, que aprende com o pastor o que a Bíblia diz, desenvolve esse relacionamento aos poucos. No primeiro momento, ela idealiza a figura do líder, como alguém maduro, bem preparado. É aquilo que fazemos quando estamos apaixonados: não vemos os defeitos. O fiel vê esse líder como um intermediário, como um representante de Deus que tem recados para a vida dele, um guru. E o pastor vai ganhando a confiança dele num crescendo, como numa amizade. Esse líder, que acredita que Deus o usa para mandar recados para sua congregação, passa a ser uma referência na vida do fiel. O fiel, pro sua vez, sente uma grande gratidão por aquele que o ajudou a mudar sua vida para melhor. Ele se sente devedor do pastor e começa, então, a dar presentes. O fiel quer abençoar o líder porque largou as drogas, ou parou de beber, ou parou de bater na mulher, ou porque arrumou um emprego e está andando na linha. E começa a dar presentes de acordo com suas posses. Se for um grande empresário, ele dá um carro importado para o pastor. Isso eu vi acontecer várias vezes. O pastor, por sua vez, gosta de receber esses presentes. É quando a relação se contamina, se torna promíscua. E o pastor usa a Bíblia para dizer que esse ato é bíblico. O poder está no uso da Bíblia para legitimar essas práticas.

ÉPOCA – Qual é o limite da autoridade pastoral?
Marília –
O pastor tem o direito de mostrar na Bíblia o que ela diz sobre certo tema. Como um bom amigo, ele tem o direito de dar um conselho. Mas ele tem de deixar claro que aquilo é apenas um conselho. Pode até falar que o resultado disso ou daquilo pode ser ruim para a vida do fiel. Mas ele não pode mandar a pessoa fazer algo em nome de Deus. O que mais fere as pessoas é ouvir uma ordem em nome de Deus. Se é Deus, então prova! Se Deus fala para o pastor, por que Ele não fala para o fiel? Eles estão sendo extremamente autoritários.

ÉPOCA – Você afirma que muitos dos pastores não agem por má-fé, mas por uma visão messiânica. Explique.
Marília –
É uma visão messiânica para com seu rebanho. Lutero (teólogo alemão responsável pela reforma protestante no século XVI) deve estar dando voltas na tumba. Porque o pastor evangélico virou um papa que é a figura mais criticada no catolicismo, o inerrante. E não existe essa figura, porque somos todos errantes, seres faltantes, como já dizia Freud. Pastor é gente. E é esse pastor messiânico que está crescendo no evangelismo. Existe uma ruptura entre o Antigo e o Novo Testamento, que é a cruz. A reforma de Lutero veio para acabar com a figura intermediária e a partir dela veio a doutrina do sacerdócio universal. Todos têm acesso a Deus. Uma das fontes do livro disse que precisamos de uma nova reforma e eu concordo com ela. Essa hierarquização da experiência religiosa, que o protestante tanto combateu no catolicismo, está se propagando. Você não pode mais ter a conversa direta com o divino. Porque tem aquela coisa da “oração forte” do pastor. Você acha que ele ora mais que você, que ele tem alguma vantagem espiritual e, se você gruda nele, pega uma lasquinha. Isso não existe. Somos todos iguais perante Deus.

ÉPOCA – Se a igreja for questionada em seus dogmas, ela não deixará de ser igreja?
Marília –
Eu não acho isso. A igreja tem mesmo de ser questionada, inclusive há pensadores cristãos contemporâneos que questionam o modelo de igreja que estamos vivendo e as teologias distorcidas, como a teologia da prosperidade, que são predominantemente neopentecostais e ensinam essa grande barganha. Se você não der o dízimo, Deus vai mandar o gafanhoto. Simbolicamente falando, Ele vai te amaldiçoar. Hoje o fiel se relaciona com o Divino para as coisas darem certo. Ele não se relaciona pelo amor. Essa é uma das grandes distorções.

ÉPOCA – Por que você diz que existe uma questão cultural no abuso religioso?
Marília –
Porque o brasileiro procura seus xamãs, e isso acontece em todas as religiões. O brasileiro é extremamente religioso. A ÉPOCA até publicou uma matéria sobre isso, dizendo que a maioria acredita em algo e se relaciona com isso, tentando desenvolver seu lado espiritual. O brasileiro gosta de ter seu oráculo. A pessoa que vem do catolicismo, onde há centenas de santos, e passa a ser evangélica transfere aquela prática e cultura do intermediário para o protestantismo, e muitas igrejas dão espaço para isso. O pastor Edir Macedo (da igreja Universal) trouxe vários elementos da umbanda, do candomblé, porque ele é convertido. Ele diz que o povo precisa desses elementos -que ele chama de pontos de contato - para ajudar a materializar a experiência religiosa. A Bíblia condena tudo isso.

ÉPOCA – No livro você dá alguns alertas para não cair no abuso religioso. Fale deles.
Marília –
Desconfie de quem leva a glória para si. Um conselho é prestar atenção nas visões megalomaníacas. Uma das características de quem abusa é querer que a igreja se encaixe em suas visões, como quere ganhar o Brasil para Cristo e colocar metas para isso. E aquele que não se encaixar é um rebelde, um feiticeiro. Tome cuidado com esse homem. Outra estratégia é perguntar a si mesmo se tem medo do pastor ou se pode discordar dele. A pessoa que tem potencial para abusar não aceita que discorde dela, porque é autoritária. Outra situação é observar se o pastor gosta de dinheiro e ver os sinais de enriquecimento ilícito. São esses geralmente os que adoram ser abençoados e ganhar presentes. Cuidado com esse cara.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

gladiatus

http://s4.br.gladiatus.com/game/c.php?uid=209853